O Projeto Feral Atlas

Felipe Mamone

O projeto “Feral Atlas” explora ecossistemas moldados pela interação entre elementos humanos e não humanos, empregando uma abordagem interdisciplinar que une ciências e artes para analisar e apresentar essas paisagens complexas. O termo “ecologias ferais” refere-se a ambientes onde a intervenção humana deu origem a ecossistemas que desafiam as distinções tradicionais entre o natural e o artificial. Locais como aterros sanitários, fábricas abandonadas, áreas urbanas densamente povoadas e monoculturas intensivas, longe de serem considerados ecologicamente “mortos”, abrigam ecologias que podem ser mais imprevisíveis e dinâmicas do que as anteriores: são as ecologias do Antropoceno.


A plataforma do projeto oferece uma experiência imersiva por meio de ilustrações interativas, registros audiovisuais e ensaios textuais, permitindo aos usuários uma exploração aprofundada dessas paisagens transformadas. A colaboração entre cientistas, humanistas e artistas é essencial para capturar a complexidade dessas interações ecológicas. O projeto é liderado por Anna L. Tsing, Jennifer Deger, Alder Keleman Saxena e Feifei Zhou, e está disponível para acesso público.


Além disso, “Feral Atlas” reúne 79 relatos de campo de diversos especialistas, destacando como reconhecer ecologias ferais — ecossistemas incentivados por infraestruturas humanas, mas que se desenvolveram além do controle humano. Essa coletânea evidencia os efeitos imprevistos das ações humanas no ambiente, característicos do Antropoceno. Os registros demonstram que essas ecologias não são meramente resíduos do progresso, mas forças ativas que reconfiguram paisagens, padrões climáticos e ciclos biológicos de maneiras inesperadas e, muitas vezes, irreversíveis.


O projeto desafia a visão tradicional de que o impacto humano no planeta é linear ou previsível. Em vez disso, evidencia como as infraestruturas modernas desencadeiam processos ecológicos não planejados, que operam em escalas que vão do local ao planetário. Essas ecologias ferais revelam as contradições do Antropoceno: ao mesmo tempo em que a humanidade tenta controlar e domesticar a natureza, suas ações produzem ecossistemas indomáveis, que escapam a esse controle e moldam novos futuros ambientais. “Feral Atlas” não apenas documenta esses fenômenos, mas também provoca reflexões sobre responsabilidade ecológica e os limites do domínio humano sobre a Terra.