Metamorph/Metáfor(m)a alude a um jogo de palavras entre o gesto de montagem sob análise, a figura de linguagem empreendida como um alcance à distopia narrativa e a metalinguagem implícita na forma (ou formação) da imagem em movimento. De maneira distinta, no entanto, averiguou-se que o design pretendido à vinheta tipográfica – buscado no embate com a máquina – não encontrou eco à hipótese original com relação às combinações sintético-geométricas da mudança temporal à espacial. Os resultados da tipografia em movimento, portanto, ficaram muito aquém do esperado – precisando ser analisado sob outras óticas da montagem desde distintas referencialidades nos presets da inteligência artificial utilizada.
Em tempos de TikTok, Instagram e Inteligências Artificiais (IA), há urgência em revisitarmos a prática do vídeo pelos artistas que transformaram tal suporte eletrônico (ou aparato tecnológico) como uma série de práxis política. Ou, de modo flusseriano, subvertendo tais aparelhos a partir de propostas criativas de utilização a fim de retirá-los de sua função maquínica original. Lembremos que a videoarte, no Brasil, já nasce política e o MAC-USP teve um papel importantíssimo aos artistas da época, apresentando-se como um espaço voltado para a crítica, para o fomento, para a formação e para a realização dessa arte midiática.
Como pensar a montagem videográfica, hoje, tomando por pressuposto o MAC-USP como um laboratório aberto de criação? Como analisar o acesso à história da videoarte no Brasil pela lente do acervo audiovisual do MAC-USP? Duas questões norteiam-me aqui: 1. de acesso e visibilidade do acervo de videoarte do MAC-USP – desde formatos, materialidades, obsolescência e diálogos tecnológicos – e 2. as questões de patrimonialização dos arquivos de artes audiovisuais como projetos arquivísticos impulsionadores de preservação e curadorias a uma história da arte no Brasil não-hegemônica desde arquivos de artistas, arquivos pessoais, arquivos ad hoc e, principalmente, de uma perspectiva de gênero – representatividade, voz própria e desafios no trabalho de mulheres e dissidências em/desde/sobre a história e a produção audiovisual na América Latina.
Se na virada do século XX ao XXI debatíamos as gestualidades do Remix como potência da imagem em movimento, hoje, um século depois das ditas vanguardas europeias, elas retornam como readymades em formato de prompts. Enquanto o Sora, da Open Ai não chega ao público, podemos compreender certas estéticas da versão gratuita do Runway, uma outra plataforma de IA, como efeitos de morphing. Espécie de metamorfose, via combinações sintético-geométricas da mudança temporal à espacial, esse morphing resulta da imagem estática combinada às instruções textuais (o prompt).
Tal efeito dialoga com os princípios gerais da imagem videográfica, seus aspectos formais e tecnológicos, e foi bastante utilizado à década de 1990: tanto em videoarte (Zbigniew Rybczyński), como no mercado pop dos efeitos visuais (como no videoclipe “Black and White”, de Michael Jackson, e na abertura da novela “Tieta”, da rede Globo).