Domingo no Golpe, documentário de Giselle Beiguelman e Lucas Bambozzi sobre o ataque golpista de 8 de janeiro de 2023, envolveu ampla discussão do grupo de investigadores do nosso Projeto Temático Fapesp e do pesquisador convidado Lucas Bambozzi. Destacamos abaixo alguns pontos desses debates:
O que dizem as imagens das câmeras de segurança do Palácio do Planalto?
por Giselle Beiguelman
As imagens dos atos golpistas de 8 de janeiro disponibilizadas pelo Gabinete de Segurança Institucional à imprensa são emblemáticas de algumas peculiaridades da cultura da memória na atualidade. Entre elas, destacam-se a superprodução de registros que são criados para serem esquecidos, como as que são produzidas para as redes sociais, ou para serem apagados, como os vídeos gerados por câmeras de segurança, nosso foco aqui. No contexto do 8 de janeiro brasileiro, no entanto, esses registros ganharam estatuto de documento e de prova criminal. Afinal, são essas imagens produzidas para não serem vistas nem guardadas, a única documentação oficial sobre o acontecimento. Para além de sua instrumentalidade no processo em curso sobre a tentativa de golpe articulada pela extrema-direita bolsonarista, essas imagens sugerem questões importantes:
- a passagem de registro a arquivo
- suas particularidades como imagem de/ sobre arquitetura, arte e design e a história dos usos do Palácio do Planalto e de suas materialidades
- seu perfil como arquivo nato-digital e documentação social
- as visões peculiares do DF que as câmeras de vigilância constróem, fora dos cânones do olhar humano, do olhar do poder sobre si
- as estéticas da vigilância (e também seu diálogo/contrapontos com a imagem de arquitetura, arte e design)
- a cultura visual do bolsonarismo (incluindo a indumentária e os dizeres das camisetas)
- a fragilidade da noção de espaço público entre nós
- os glitches, os blurs
Diante dessa quantidade assombrosa de imagens (quase 800 horas de vídeo captadas por 33 câmeras), perguntamos: Quais outras histórias da arte, da arquitetura, do urbanismo, da cidade e do design essas imagens nos contam? Que tipo de arquivo nos sugerem? Que políticas da imagem e que tipos de estéticas do pós-fotográfico estão enquadradas nessas câmeras?