Você já imaginou trabalhadores rurais se beijando ou trabalhadores têxteis se abraçando apaixonadamente? Em ‘Um Arquivo Inexistente’, o artista Felipe Rivas San Martín recria um passado queer na América Latina usando inteligência artificial. Com imagens desgastadas, texturas e erros que ele preferiu não apagar, o olhar especulativo funciona como uma faísca para projetar as cenas LGBTQIA+ do século XX que ninguém jamais viu.
É importante destacar que o artista investiga há anos expressões e manifestações dissidentes. Cruzando tecnologias, arte e arquivo para representar o passado queer. Talvez tenha sido essa ausência, mas também a revisão de sua própria biografia desprovida de referências queer, que o levou em 2022 a iniciar o projeto “Um Arquivo Inexistente”. São 108 fotografias de casais homossexuais da América Latina no início do século XX que, criadas com inteligência artificial, especulam sobre o amor, o toque e a paixão que, possivelmente, permaneceram ocultos durante certo período histórico.
Unindo tecnologias tradicionais e novas mídias, Felipe Rivas San Martín propõe a criação de um arquivo que possa ser pensado para a posteridade. Alguém no futuro poderia acreditar que essas fotos foram realmente tiradas, sem saber que havia IA por trás delas? Segundo o artista, na época em que começou a usar inteligência artificial, houve muita tentativa e erro, muito aprendizado sobre como mover os botões. Além disso, foi necessário compreender como escrever um prompt (instrução ou indicação) para que as imagens fossem mais ou menos o que se imaginava.
Para Felipe Rivas, “a relação com a IA é interessante porque você cria uma espécie de imagem anterior, você tem que descrevê-la textualmente e, depois do resultado, analisar se o que você escreveu é apropriado ou não”. De acordo com Rivas, as primeiras imagens eram de pessoas brancas de classe alta, assim, a primeira coisa que o artista fez foi evitar preconceito racial contra a população latino-americana. O projeto faz um exercício de treinamento com imagens e ressignifica a identidade latina. Nesse sentido, pode ser compreendido como uma forma de protesto ao construir imagens com erros anatômicos para discutir a noção de corpo não normativo.
CONHEÇA
Acompanhe o trabalho do artista no Instagram: