Os vídeos de gatinhos não são apenas entretenimento; eles são um produto na economia digital. A “cuteness” desses vídeos, como aponta Sianne Ngai, está profundamente enraizada na cultura de consumo. Esses vídeos transformam a fofura em capital, gerando receita através de cliques, visualizações e compartilhamentos.

As plataformas como YouTube utilizam algoritmos para promover vídeos que maximizam o engajamento, transformando a fofura dos gatinhos em um recurso econômico. Os vídeos exemplificam como a cultura digital converte emoções em mercadorias, onde o prazer de assistir a um gato brincando se traduz em lucro. A mercantilização da fofura nos vídeos de gatinhos reflete a intersecção entre afeto e economia na era digital, destacando como o entretenimento se tornou uma ferramenta de monetização.

Os vídeos de gatinhos, aparentemente triviais, tornaram-se ícones da cultura digital, mas será que há algo mais por trás dessas imagens fofas? A teoria do superflat nos ajuda a entender essa estética aparentemente superficial. Superflat descreve uma convergência entre arte e comércio, cultura alta e baixa, onde a superfície visual carrega camadas complexas de significado.

Esses vídeos, com suas curtas durações e edições mínimas, não são apenas simples distrações. Eles evocam o cinema de atrações, um modelo cinematográfico que prioriza o espetáculo e a resposta emocional imediata sobre a narrativa. O que parece trivial — um gatinho brincando ou fazendo algo engraçado — na verdade conecta a uma tradição de entretenimento visual, agora reconfigurada para a mundo digital.

Esses vídeos funcionam como uma forma de consumo rápido e superficial, adaptada ao ritmo acelerado contemporâneo. Eles nos oferecem uma experiência de entretenimento que é ao mesmo tempo simples e profundamente eficaz em captar a atenção do público. A estética superflat nos vídeos de gatinhos revela uma nova forma de engajamento visual, onde narrativa é colocada em segundo plano em prol de uma conexão afetiva intensa e imediata.

Gatinhos acadêmicos

A Rice University mantém um arquivo digital dedicado a uma das formas mais populares e influentes de mídia na internet: os vídeos de gatinhos. Este acervo é uma coleção que explora não apenas o fenômeno cultural desses vídeos, mas também o seu impacto social, psicológico e econômico. Através desse arquivo, a universidade documenta como os vídeos de gatinhos transcenderam o mero entretenimento para se tornarem um objeto de estudo acadêmico.

O arquivo reúne uma variedade de vídeos que capturam a essência da “cuteness” e seu poder de engajamento nas plataformas digitais. Além de ser um repositório de vídeos, o acervo também oferece recursos para entender a ascensão desses vídeos como uma força cultural. Pesquisas mostram que esses vídeos são capazes de melhorar o humor dos espectadores, além de servirem como ferramentas de procrastinação e alívio emocional. O acervo da Rice University é uma fonte de pesquisa para entender como a internet molda o comportamento e as interações sociais. Ele oferece insights sobre como algo aparentemente trivial, como vídeos de gatinhos, pode ter implicações profundas na maneira como consumimos mídia e nos conectamos com o mundo digital.

Visite: https://libguides.rice.edu/catvideos

Saiba mais:

Shafer, Leah. “Cat Videos and the Superflat Cinema of Attractions.” Film Criticism, vol. 40, no. 2, 2016, pp. 1-12. https://doi.org/10.3998/fc.13761232.0040.208.

Gunning, Tom. “The Cinema of Attractions: Early Film, Its Spectator and the Avant-Garde.” Wide Angle, vol. 8, nos. 3-4, 1986, pp. 63-70.

Murakami, Takashi. Superflat. Tokyo: Little More, 2000.